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“Do lado esquerdo da tela, no banco, Beto está pensativo enquanto Gean, insolente, oferece graxa ao homem distraído. Esses dois garoto são vizinhos num beco do Alemão. Vêm pra cá de Bonsucesso, trabalham também na Praça Tiradentes e na Central, mas preferem a Cinelândia porque, como eles dizem; têm mais turistas e o território é livre. Quando ficam cansados é comum pernoitarem por aqui sob uma das marquises do Theatro Municipal.

Do outro lado, Dyrlei dorme encostado num apoio de lixeira. É morador de rua há dois meses e anda cheirando cola. À noite fica até tarde descendo entulho de prédios das imediações. Vende balas, biscoitos, lava carros e faz malabarismo nos sinais. Nos fins de semana, quando o movimento no Centro diminui, costuma soltar pipa no Aterro do Flamengo.”

Estes pequenos personagens retratados no quadro “Os Meninos da Cinelândia”, existem de verdade e suas histórias também. Eu os conheci em maio de 2014, quando estive no Centro fotografando.

Agora por onde andam Beto, Gean e Dyrlei?

Será que ainda estão por lá? Ou por qualquer outro ponto realçando os contrastes da cidade?

Tomara que não, tomara que já tenham sido conduzidos a uma vida menos dramática e que hoje, aquelas histórias de sobrevivência que me foram relatadas, tenham se tornado apenas temas de ficção.

Rio de Janeiro, 15 de março de 2015

Sino Valentim

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